Sem organização, agricultura familiar não tem futuro
Gerailton
Santos
Coordenador Geral e de Política Sindical da Fetraf Goiás
O movimento sindical surge em momentos onde o povo, na história recente do pais, se organizava em grupos para fazer o enfrentamento. Os governos na época tinham dificuldade em reconhecer a organização sindical como legalidade. No governo de Getúlio Vargas, ele, então, teve o entendimento de publicar uma legislação onde reconhecia a legalidade, a legitimidade da organização sindical.
No entanto, destinou à organização sindical fazer o atendimento médico, dentista, fazer aquela atividade que era de governo. Então, ele deu poderes ao sindicato para agregar isso nas suas ações, com isso ele tentou impedir que os movimentos sindicais tivessem tempo para planejar as ações necessárias e apresentar pautas junto ao governo.
Com o passar do tempo, os trabalhadores, os dirigentes, começaram a entender que a proposta da legislação do reconhecimento da organização sindical era contrária ao objetivo da organização, então começaram a desfazer todo um processo imposto pelo governo Getúlio Vargas. A organização sindical, de fato, tinha o papel de apresentar as suas demandas junto ao governo, de reivindicar, de pressionar o governo, e não de fazer o papel do governo.
O tempo passou, muitas ações foram feitas e em meados dos anos 90, na região sul do país, mesmo tendo a organização sindical fugido um pouco dos princípios da legislação, a agricultura familiar dentro do cenário se sentia um pouco fragilizada. Foi quando na região sul - em 97, 98 e 9- se criou e se constituiu uma entidade chamada de Fetraf Sul. É uma federação específica da agricultura familiar, que é um novo formato de organização sindical, mesmo existindo a organização sindical tradicional.
No ano 2000, isso se aprofundou em outros Estados. Em 2002, foi se estendendo esse debate do novo modelo de organização sindical, entendendo que o convencional estava um pouco fragilizado, porque agregava os agricultores familiares, os assalariados, os trabalhadores rurais. Agregava, assim, tudo à uma única organização. Os próprios agricultores sentiam a necessidade de um novo formato porque esse já estava tendo alguns desafios para serem superados e os dirigentes, infelizmente, não permitiam dentro da organização que isso fosse rompido.
Dentro do processo, em 2004, a agricultura familiar no Brasil inteiro se reuniu em Brasília, cerca de 1200 representantes, onde se discutiu a criação de uma estrutura nacional da agricultura familiar. No ano seguinte, foi criada a Fetraf Brasil, uma
federação nacional da agricultura familiar mesmo já existindo a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura do Brasil, no caso a Contag.
Em Goiás - A gente constituiu, 2007, uma organização específica da agricultura familiar, chamada Fetraf Goiás. Esse processo se deu por uma iniciativa dos próprios agricultores e agricultoras familiares do estado de cinco municípios especificamente que já tinham constituído a sua entidade sindical local, o caso de Doverlândia, Mineiros, Caiapônia, Aurilândia e Perolândia. Eram os cinco sindicatos já constituídos, os quais foram os fundadores da Federação da Agricultura Familiar em Goiás.
O processo do movimento sindical, nós entendemos, tem um papel fundamental que é de organizar a classe, que é de somar os trabalhadores e trabalhadoras e organizar as suas reivindicações. E ter a coragem de fazer os enfrentamentos necessários seja na área dos assalariados, seja na área da agricultura familiar, seja na área dos trabalhadores rurais. Nesse sentido, nós da agricultura familiar em Goiás temos pautas claras onde demandamos ao governo federal, ao governo estadual e aos municípios, onde os sindicatos representam a categoria da agricultura familiar.
Enfrentamos os desafios desde o processo de infraestrutura, pautamos os municípios para que possam de fato garantir condição do deslocamento das famílias da sua comunidade aos centros para comercialização dos seus produtos: seja para compra, seja para as atividades necessárias da família até a questão da obtenção de terra a nível nacional onde reivindicamos do governo federal.
Uma ação que a gente faz é os enfrentamentos diários, os debates e a construção das pautas tudo no processo coletivo. A gente tem esse entendimento de que construindo conjuntamente é que a gente vai ter força suficiente para superar os desafios. Então, é nesse sentido que nós, enquanto movimento sindical, enquanto representante da agricultura familiar entendemos a importância do movimento no cenário que vivemos hoje. Onde temos um governo de oposição à organização sindical, principalmente no campo, mas nós sabemos que essa organização sindical se fortalecendo, mesmo no desafio que estamos vivendo hoje, ela consegue fazer as coisas acontecer.
Temos claro que sem a organização sindical, os trabalhadores do campo não terão direito e acesso à terra, não terão direito aos créditos fundamentais para o desenvolvimento, não terão direito à assistência técnica, não terão direito à infraestrutura mínima necessária pra sobreviver. Então, temos claro que o instrumento, a ferramenta de trabalho do agricultor familiar é a sua entidade sindical. É ela que vai de fato os representar e fazer os enfrentamentos necessários para superar os desafios e ter as conquistas que de fato necessita.